Eu queria meu filho de volta

Eu tenho 89 anos

E 4 de pura saudade

Porque eu tinha um filho

Gabriel, era feliz e de verdade.

Quando eu tinha 85

Ele tinha 22

E eu brigava todo dia

Pra ele separar no meu almoço

Bem direitim, os grão feijão dos grão de arroz.

Todo dia ele sentava comigo pra almoçar na mesa

E tentava puxar conversa, mas eu nem dava atenção

Só que a culpa num era minha, eu passava o almoço todo

Tendo que separar os grão de arroz dos grão de feijão.

E quase toda madrugada me dava vontade de urinar

Só que eu não tinha nem mais força pra poder me levantar.

E quase toda madrugada ele se levantava

Coçando os ói de sono, mas ia me manter em pé

Eu inté dava trabalho, tinha os meus momentos falhos

Mas um pai que dá comida, qual é o filho que não quer?

Eu amava tanto aquele menino

Eu ainda lembro de cada momento

De cada doce sentimento

Da puberdade que vinha vindo.

Mas até hoje eu me entristeço

Me lembro dele no berço

E quando penso que eu tô vivo

E ele morto, sem endereço

Eu fecho ói, e tento me esquecer

Mas no final do dia eu nunca me esqueço.

Gabriel, volte pro pai

Que agora eu tô sozinho

Que nem pinto fora do ninho

Que nem barco fora do cais.

Gabriel, volte pro pai

Eu prometo me segurar

Se duvidar, até me mijar

Mas eu num me acordo só pra num te acordar.

Filho, volte pro pai

Que eu prometo, sem mais sermão

Que eu converso com você

E não vou mais separar os grão de arroz dos de feijão.