MELANCOLIA DO FIM DE TARDE

Só que ninguém poderá ler no esgarçar destas nuvens

a mesma história que eu leio, comovido.

Ferreira Gullar

O dia veio e está quase indo.

Sentado à janela do meu quarto

Vejo o sol se pôr

Vou lá fora, rego as plantas

Estrelas ameaçam aparecer

O sol trêmulo resiste em vão

Meu coração pulsa devagar

Minha mãe mexe as panelas do jantar

Só tenho raiva da escandalosa panela de pressão

Quebrando a linearidade daquele encerramento

Talvez, eu seja a maldita panela de pressão.

Volto ao meu quarto; para minha janela

O sol afoga-se no horizonte

Lhe dou o meu luto pela sua morte de hoje.

Realmente sofro minha melancolia do anoitecer,

Escurece o mundo, escureço eu.

Mas logo me esqueço de tudo

Nova musa desponta no céu.

Minha mãe me chama

Por enquanto, vou jantar

No cardápio do poeta temos:

Poesia, melancolia, sol, lua e misto final do dia.

Amanhã à tarde, com certeza, tudo será diferente.