Naqueles dias

Quando te vi pela primeira vez

no meio de tanta gente

não dei conta de conter meus olhos

que renitentes deitaram-se em teu colo.

Os seus, meio que dissimulados, só olharam para mim

tempo aquém do que é preciso

para perder o juízo e noutra vez que me encontrar,

se lembrar que já me viu.

Mesmo assim, te levei dali comigo para todo lugar

como se fosse uma parte de mim

que guardaria em segredo

e que ninguém veria jamais.

A vida havia traçado caminhos tão distintos

que juntos só em meu pensamento

e no fundo do meu sentimento uma dor que doía

de te ver tão distante.

Só o tempo, pensei, pode ser tão capaz

de levar para longe os seus olhos

e fazê-los indiferentes ao meu coração

que por fim descansará.

O tempo, no entanto, não levou para longe os seus olhos,

antes, torturava como se não passasse

e soprava em meus ouvidos o que diziam seus lábios

na minha imaginação.

Que loucura, meu Deus!

Assim pensava ao meio dia:

Me abro contigo?

Saio do abrigo, ou morro contido

no poço desse amor?

O que decidi, deu no que deu

quando abri meu coração se rompeu a atmosfera

e a tempestade caiu sobre a terra.

Os caminhos que a vida havia traçado tão distintos

fundiram-se em um, e juntos seguiram as trouxas de roupas,

a mobílias das casas, as lágrimas, as faltas,

a ausência de perdão.