MASOQUISMO PASSIONAL

Eu tento adormecer, mas acordado, sonho

Debruçado sobre a relva negra

Das lembranças do teu corpo,

Contemplando um vazio que se enche de dor.

Ao solitário olhar, de minha janela sombria,

A tarde parece querer eternizar a tua ausência,

Castigando-me desejos e saudades

Daquilo que verdadeiramente nem tive.

E assim, vago horas e dias de procura

Na amaldiçoada busca de perspectiva semimorta

Que parece infinda e inebriada,

Alimentando em tédio, minha paixão masoquista.

E quando as nuvens do desamor e do desafeto

Desabam sobre mim em temporais de lágrimas,

Rogo aos deuses da solidão que eu não me afogue,

E siga flutuante, em teimosia, ao teu encontro incerto.

Até que um dia, quem sabe, sem que nada saibas

Apareças nessa paisagem pintada de pranto

E nem que seja por uma alucinação de misericórdia

Possa eu, enfim, roubar-te um beijo forçado pela angústia

Ou, quem sabe, deixar-me-ei levar pela correnteza de tua

indiferença

E mesmo a constatar a minha eterna desilusão

Alimentarei a esperança de desmoronar, um dia, por azar

ou sorte,

Num oceano de solidão, aonde o tempo poderá lançar-te.

josealdyr@gmail.com