Desci o silêncio

Hoje desci o silêncio,

desci-me em silêncio no emudecimento

dos gestos gastos, retractos, retraídos

dos braços.

Hoje e sempre, descendi de mim, esqueci de mim,

para te escutar apenas e só, a ti.

Hoje, neste tempo em as palavras, uma a uma,

vão murchando a luz da lua,

e do sol, do sol nocturno, recolho laranjas

em gomos,

em frutos e pomos

secos de planos e sonhos,

desço o pano num palco sem palmas

sem raivas

sem glórias

sem astros

sem estrelas

(que se sepultaram vivas

a reflorirem na voz labial do pranto).

Hoje,

apenas a brida desta dor pungente em ferida,

dança danças orgânicas no linho branco da nossa cama.

Apenas a brida, de mãos dadas com o vento,

seca as lágrimas ao pensamento.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 21/06/2007
Código do texto: T535715
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