TARDE

Nos tempos da minha infância, a visão da luz que batia

às quatro da tarde

era sinônimo de festa:

Era a hora em que o Sol “esfriava” e as crianças saiam desembestadas pra rua brincar.

Nesse tempo,

Brincava a rua,

Brincavam o vento e os passarinhos,

Brincava a poeira que a correria dos pés levantava

E até mesmo o círculo, em suas proporções geométricas,

Brincava de roda

Na brincadeira dos meninos.

Hoje,

Às quatro da tarde,

Brinca apenas o relógio,

apático,

na parede do escritório.

Parou de brincar a rua -

tornou-se perigosa demais;

Parou de brincar o vento -

acondicionado em sua caixa de gelo.

A poeira, por sua vez, parou de dançar-

resolveu descansar seu cinza sobre os móveis.

Pararam de brincar as crianças,

e até mesmo os passarinhos pararam de cantar -

por conta da fumaça ou de um avô que não está mais.

Mas

a menina daquele tempo

ainda

existe:

Às quatro da tarde,

Se deita sobre o desenho

Que o Sol rabisca pelo chão

Com seu lápis de fresta de janela,

E escuta no vento,

atentamente,

as gargalhadas de um tempo

em que a Felicidade

Era a sua brincadeira e obrigação de cada dia.

08.09.15

Samantha Medina
Enviado por Samantha Medina em 10/09/2015
Reeditado em 29/01/2016
Código do texto: T5377778
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