Desperto de um sono de mil anos

Desperto de um sono de mil anos

com pálpebras cozidas com agulhas de saca

ao âmago virulento das palavras.

De quimeras embrulhadas em ventos e ciclones

no traçado de lonjuras secas de planos.

Acordo vinda do frio com os músculos hirtos

e os gestos quebradiços, corrompidos nos tojos

densos com que tecemos abraços de moluscos

apodrecidos por dentro de algibeiras.

Regurgito de um sonho verde, dormido à sombra

de penumbras farpadas a um mar de chumbo

e de vagas moribundas, sempre alteradas.

Espreguiço os sentidos à luz do novo dia,

purgo-me de ti,

bolino-me por dentro, no ressaibo e no revezo

do gosto e do pasto da noite da utopia.

Ressuscito por fim, no mastigo de rosas ácidas.

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 23/06/2007
Código do texto: T537803
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