Olho para aquele retrato,
Sem, sequer, conseguir reconhecê-lo,
pois, me parece um estranho.
Não consigo mais me lembrar
de quem foi o meu marido.
Sinto como se eu tivesse vivido
durante todos esses anos, cuidando
dos meu filhos sem a presença de um
homem ao meu lado.

A vaga lembrança que eu tenho
é a de um vulto com semblante indefinido,
que fazia parte, não de mim, mas da mobília.
Não há nada que faça despertar em mim a lembrança do pai dos meus filhos e do amor de minha vida.
 
Acredito que tudo tenha sido um longo pesadelo
de onde eu, muito tarde, acordei.
Apesar de saber que foi um longo sonho mal,
não me lembro dos detalhes desse sonho e muito menos dos momentos ruins que pautaram a maior parte do tempo  em que vivi esse sonho malévolo.
 
Eu não imaginava ser possível que alguém
pudesse se desprender de minha memória,
depois de três décadas de uma vida em comum.
Todo esse passado foi transformado em pó.
No pó que o vento se encarregou de levar para bem longe.

 
Mari S Alexandre
Enviado por Mari S Alexandre em 12/09/2015
Reeditado em 13/09/2015
Código do texto: T5379838
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