O Papagaio João no Céu dos Rádios de Pilha

O tal ser inanimado uma má nova trouxe,

Vãs estrofes doces...

Que não duram mais que o agora.

Pôs o Telefone Mudo no banco dos réus,

E disse que o céu...

É só pra quem adora, adora, adora...

Papagaio João,

Que remedava até então...

Tudo, tudo, tudo o que ouvia.

Segredo, piada, palavrão,

Música, chavão...

Teve uma “epifania”...

Já não é mais erradio,

Tornou-se quase um rádio...

Fala tudo no automático.

Da boca pra fora,

Aflora...

Flores de plástico.

A boca adora,

Muito embora...

O coração na conchichina.

“Palavra por ação,

Ladrou não morde o cão...

Ah, vai ver se to na esquina!”.

A criatura mais santa,

De manto entoa, entoa mantras...

Pra não sair de sintonia.

Nessa trilha sonora,

Ancora...

Em estado de catatonia.

Esqueceu música mundana,

Só ouve as dez mais da parada marciana... Na onda espacial.

“Crucifica-o!” Ou “Hosana!”?

A cruz tem preço de banana...

No dial.

Nesse programa de calouros,

Cigarras e besouros...

Ganham não mais que abacaxis.

Fazem floreios e ornatos?

Mas louvor de fato...

Só no inábil lábio dos desinteresses infantis.