Homunculus
 
Ambicionava ter uma TV,
Antes disso queria ter uma vida;
Uma para chamar de sua,
Somente sua.
Não faz sentido dividir coisa tão preciosa.
Até mesmo Deus sentiu ciúmes dela,
A vida.
Deu-a e depois
Pegou de volta,
Feito criança birrenta.
E de vidas se alimenta há milênios.
E pede que as nossas a ele dediquemos livremente.
Como se fosse fácil desapegar de tal tesouro!

Ambicionava ter um amor pra si,
Mas o peito está afundado pela saudade;
A coluna curvada pelo peso da timidez,
que se apossara do seu cangote.
Homenzinho medroso!
Medroso não, melindroso.

Lançou-se sobre corpos disponíveis- carne branca e fria-
A ver se lhes arrancava uma rima que valha,
Um versozinho qualquer;
E não encontrando a umidade quente da inspiração,
Foi em busca da solidão,
E a encontrado, abraçou-a
E fê-la sua amante.
É bom apaixonar-se por velhos amigos!
Mesmo quando seus olhos, que pareciam negros,
Sejam na verdade castanhos,
Ou teriam eles desbotado?
Comprou a TV, abraçou a solidão, aceitou a loucura e viveu inúmeras vidas, imaginárias.
Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 27/09/2015
Reeditado em 25/06/2016
Código do texto: T5396734
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