CORRIDA NO LABIRINTO

Corro no labirinto.
Trombo comigo mesmo.
Estatelo no chão.
Quebro os dentes da frente.

Ergo-me.
Mãos me ajudam.
É Paulo, o ex-cego.
Ele me aponta a porta.

Lá fora, o mundo.

Morro de pena de mim mesmo.
De minha angústia.
De minha noite sem sono.
A fome, do tamanho da cruz.

Devo, sim, ser igual a outros.
Durmo com prostitutas.
Tive amantes mil.
E a solidão lá.

Lá fora, no mundo.

Leila é fria.
E suas mãos massageiam meu ego.
Massageiam meu sexo.
Extraem meu sêmen.

Ela me suga.
E me suga a alma.
Eu me vendo por muito pouco.
Prostituído, como.

Lá fora, do mundo.

Não sei o que será de mim.
O que será, será.
A tarde queima meus olhos:
sonhos brotam.

Um dia hei de morrer...



Imagem: Sara Saudkova