Capitulo I

"Já era noitinha e enquanto minha mãe prendia o seus lindos cabelos preto com uma piranha borboleta, meu pai, gigante e esbelto que era, me agarrou com suas duas mãos e facilmente me levantou por inteiro do chão, e com um doce sorriso no rosto me sentou na cadeira ao canto da cozinha e retirou de seu bolso do paletó um pente fino e começou a assentar as linhas de meus cabelos, penteando-os em divisão central da esquerda para direita. Me lembro como se fosse hoje, seu olhar cheio de vida e confiança que ele sempre carregou ( ou assim o sempre vi) e me perguntou se eu tinha fome, não lembro o que eu respondi, mas lembro muito bem da linda gargalhada de minha mãe à minha resposta, que ao apagar a luz da cozinha, disse também algo que não consegui entender, e então meu pai pegou em minha mão e fomos juntos para fora da casa, e é isso, minha mais antiga lembrança que eu tenho da minha vida, devia ter dois ou no máximo três anos de idade, disso eu sei bem, porque dos quatro anos de idade em diante, tudo mudou, eles mudaram, eu mudei, a casa mudou, e nunca mais eu deixei de esquecer algo, a não ser nomes, datas e números, esses sim, nunca foram meu forte..."