Contradições

Nada temo de todos os temores que tenho

Nada sinto dos extremos onde me encontro

Nem onde me perco.

Não sou o caminho que faço

Não sei para onde vou ou a que venho.

Tenho em mim, com licença de Pessoa,

Todas as contradições do mundo.

Os sonhos guardei-os todos

Em uma caixa qualquer,

Em um canto qualquer.

Eventualmente escapam pelas frestas

Desta caixa descuidada

Um sonho ou outro.

Todos coloridos com as cores do arco-íris

Mas os sinto em preto e branco.

Não me dói o passado, cicatrizes coçam porém.

Não me aflige o futuro, não o pressinto.

O presente, desembrulho como posso

Papel comum, sem pintura ou laço.

Não sou alegre

Não sou triste tampouco.

Sou.

É este ser, verbo transitivo intransigente

Que me torna contraditório

Penso, logo sou.

Sou, logo existo.

Existo?

Busco um sentido nisso.