A gema da palavra

Quando olhou de longe,

viu que olhar era mais

que os olhos em movimento.

E que olhar precisava

de mais palavra que olho

de mais forma que o infinito

e de mais variação que o plural.

Olhou um pouco mais

e percebeu que podia debruçar no ar

que debruçar também era palavra

para olhar...

Debruçado era olhar alongado...

Pássaro voando

sem pressa de voar.

E sentiu que pássaro

era palavra que olhava

e que a palavra olhando pedia

mais que movimento

mais que debruçado

mais que alongado.

Olhar guardava com liberdade.

Deslizou, então, a mão sobre o rosto

e olhou de perto a palavra rosto,

para fazer a fita

que mede e voa

do fio de cabelo esvoaçado

que desmediu os olhos

e desvelou olhar livremente.

Para além dos olhos...

no além da fita...

ainda mais além do voo.

O lugar novo

do novo ovo

da nova vida

que o poeta faz habitar

na gema da palavra olhar.

Era a casca quebrando...