O Meu Duplo

Meu duplo

aqui do meu lado

é melhor do que eu.

São outros olhos, vivos.

É outra boca, túmida.

Outros dentes, alvos.

Um outro corpo, forte.

E são outras orelhas,

lóbulos rentes à cabeça.

Pequenas, delicadas,

construção imaginária.

Meu duplo somente comprova

o quanto fui mal feito,

o quanto tudo em mim

é nojo.

E sofre. E chora.

E anseia

o outro,

a troca de pele improvável,

mas buscada.

O belo metal gelado

moldando os tecidos

para o que deveria ter sido

e que é, em meu duplo.