Vida em Poesia


Na vã tentativa de prendê-la em minha divagação,
Intentei um dia cantá-la solene em minha poesia,
Mostrando-lhe que tamanho amor também subsistia
Não somente no seu, mas igualmente no meu coração.

Encantado com o tudo que é, cantei-a ao universo,
Libertado da masmorra em que então me encontrava,
Julgando-me acolhido, ao tempo em que tanto a amava,
Fi-la poesia, fi-la canção, moldei-a em meus versos.

Divaguei por seu corpo, deslumbrado com cada recanto,
Decantei-a em tantos sonetos, prosas, odes e crônicas,
Olvidando às vezes de mim mesmo, em vogais tônicas,
Por tanto a amar, enlevado com seu mavioso encanto.

Cantei em versos heróicos, sáficos, martelo agalopado,
O imenso amor que sentia transbordante de meu peito,
Sem atentar para estrofe, troqueu, lambo ou anapesto,
Ao sabor do que pressentia, perdidamente apaixonado.

Observando a rima, em versos tantas vezes alexandrinos,
Cantei o amor, homofonias externas e internas, cruzadas,
Intercaladas, versos brancos, emparelhadas ou misturadas,
Tentando mostrar um coração que amava como se menino.

Hoje vejo, ao concluir, tristonho e copioso, mais um soneto,
Que lhe faltam as agudas, graves ou esdrúxulas tonicidade
E que mesmo abundante em ricas e preciosas sonoridades,
Para ela, jamais chegou a soar como um verdadeiro dueto.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 13/11/2015
Reeditado em 13/11/2015
Código do texto: T5447986
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