Solilóquio triste

Tenho alma de poeta! dizem alguns poucos!

Mas não sou poeta, longe de sê-lo!

Escrevo, decerto, algumas palavras trôpegas

Que não dizem muito, apenas instigam-me a verve

A uma acuidade incomum e inatingível, talvez!

E o que me sobra é uma incômoda inquietude!

Trago no âmago um amor platônico pela arte em si

Alimentado pelos amavios da sutileza artística!

Por isso faço canções tristes como um amor perdido

E escrevo histórias ambíguas, singelas e aflitivas

Como o desabrochar de uma paixão na flor juvenil!

Mas tudo isso são apenas deleites utópicos!

Tenho por preferência as coisas menos destacadas,

As menos óbvias, as quais não se infligem importância:

O filme que não fez sucesso, a música que o rádio não toca

Ou o disco clássico que empoeirou na estante!

Prefiro o drama à comédia, Paul à John, calor ao frio!

O conto à notícia, pois é preciso, sobretudo, sonhar!

Trago o passado como um presente para um futuro eficaz

E o melhor momento, é estar em paz consigo mesmo!

Mas é difícil, quando a mente é um caldeirão erupto de ideias!

Lembro-me do primeiro verso que escrevi... Fui apanhado

Como um cervo nas garras de um predador implacável!

Entrei num campo minado, desde então, não tenho sossego!

As palavras surgem sorrateiras, estranhas e constantes

Não raramente, tão cansativas e intrigantes! tão insistentes...

Imagino histórias de amor mal resolvidas; fatídicas e tristes,

Paixões avassaladoras, inviabilizadas pelas vaidades da vida!

As vezes me pego delirando, imaginando mundos desconhecidos

Ou viagens no tempo do passado distante!

Efemeridade! Essa é a real verdade da existência?!

Somos tão rápidos em existir! Num ínfimo instante, passamos,

Des-existimos! Somos como folhas secas levadas ao vento,

Dissolvidas em lugares ermos. Delírio poético apocalíptico!

Nada criei ou inventei, mas sinto uma necessidade estranha...

Uma indagação ao Criador a respeito do incompreensível!

Ah, Senhor Deus! Por quê não há respostas esclarecedoras

Que aliviem como um bálsamo a consumição da alma aflita?

E quantos desmandos absurdos ainda encorajaremos pela

Saciedade voraz da nossa inerte e passiva sede de justiça?

Enquanto os detratores põem os seus pérfidos ardis em ação,

As palavras vão surgindo sorrateiras, estranhas, insistentes...

A quem indagarei, senão ao autor dos mundos inumeráveis

A respeito da limitada capacidade humana de amar o outro?

É tão natural crimes e barbáries inimagináveis acontecerem

E os seus autores prosperarem impunes e deleitarem-se!

Contudo, ao que furtou o pão para o filho, lhe é negada a chance!

Onde andará a justiça, essa errante desconhecida?!

Oh, Deus! Será eterno esse emaranhado de palavras vãs

Que resvalam e não atravessam os muros do entendimento?

Dentro de mim, as vozes do descontentamento silenciam

Cansadas, pela busca desesperada de uma resposta objetiva!

Quem sabe o amor e não a morte, essa fascinação soturna,

Esteja de nós, mais próximo, do que a companheira desesperança.

Edsongs, nov/2015