O PRÉDIO
No topo daquele prédio
uma flor inexistente perfura
o céu amajurento de tédio,
enquanto um poeta murmura
um canção tosca, de escárnio,
bêbada, sem entusiasmo.
Mas que toca à pele
como uivo ou espasmo.
Aquele topo de prédio
não existia na noite do país
que, em chamas, dardejava;
um pálido país, um croquis
da esperança no futuro.
Flor outra, mas real
sonho contra o muro
de um limbo desnatural.
O topo daquele prédio
empapuça a rua de visões.
Como um canal.
2007
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