O PRÉDIO

No topo daquele prédio

uma flor inexistente perfura

o céu amajurento de tédio,

enquanto um poeta murmura

um canção tosca, de escárnio,

bêbada, sem entusiasmo.

Mas que toca à pele

como uivo ou espasmo.

Aquele topo de prédio

não existia na noite do país

que, em chamas, dardejava;

um pálido país, um croquis

da esperança no futuro.

Flor outra, mas real

sonho contra o muro

de um limbo desnatural.

O topo daquele prédio

empapuça a rua de visões.

Como um canal.

2007

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ALFREDO ROSSETTI
Enviado por ALFREDO ROSSETTI em 29/06/2007
Código do texto: T546287