OBITUÁRIO
Deu-se que enlouqueceu
E deu-se que era meio-dia
Deu-se que ninguém viu
Que a rua estava vazia.
Deu-lhe afrouxar a gravata
No parapeito da vida
Deu-se no oitavo andar
Se esborrachou na avenida.
Deu-lhe não ter fortuna
Deu-lhe não ter fidalguia
Deu-se que sequer fez falta
O João que pulou, meio-dia.