Estranha criatura

Mostra-se como objeto definido,

que imita mas transcende a realidade;

tem corpo de matéria e o ardor de um grito.

Vive além da quimera e da verdade,

mas há predileção pela primeira,

pois seu âmago em sonho é que então arde.

Na mente se revela em forma inteira,

abrindo espaços no alto contemplar

do que no mundo existe, sem que queira

em seu sublime intento transformar

o que já é demais firmado em terra,

o que não tem valor quando a sonhar.

As portas da ilusão logo descerra

e faz com que penetre a voz do vento,

a qual se inflama, ascende e do alto berra

ao mundo o quão excelso é o pensamento,

como distante voa a mente viva,

como o infinito agarra-se ao momento!

E em grandes corações por fim aviva

os rotos elementos que há no mundo,

da percepção fazendo coisa ativa;

pois quando se reduz além do fundo

abismo que há na mente, vai e revela

seu verdadeiro corpo, que é fecundo,

o qual a coisa inútil sempre eleva;

e alonga os seus tentáculos no chão,

a fim de captar a luz e a treva

que residem no brado de um leão,

em todos os espaços do universo

e onde os humanos olhos nunca irão.

Então do que percebe cria o verso

e um estado quimérico decreta,

a corromper o real, que está disperso;

porque criar nova Ordem é a meta,

e por esse motivo a tudo adapta-se

a amórfica consciência de um poeta.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 09/12/2015
Reeditado em 09/12/2015
Código do texto: T5475176
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