Se os olhos refulgissem a minha alma

Se os olhos refulgissem a minha alma,

e esta voz exprimisse o belo canto

que os seres dentro em mim entoam tanto,

viveria sereno e com mais calma.

Porque nas explosões dos universos

em minha consciência residentes,

que incendeiam o espírito dormente,

fazendo deste corpo um ser possesso,

não prorrompem na estética do externo,

que nos dias é lânguido e macio,

mas nas noites é cálido e bravio,

almejando p'ra sempre ser eterno.

Não há no corpo ignóbil uma imagem

que denote o brilhar que há em meu peito,

só uma fresta por onde então espreito

a abjeta vida real, uma miragem.

Ah, se eles conhecessem toda a vida

que pulsa muito além do coração!

Se soubessem que não faço na ação

toda ânsia que na mente vai retida!

Como a fruta que estoura ao se morder,

há algo em mim que deseja a liberdade,

mas que ainda se agrilhoa, e já é tarde

p'ra afrontar com vigor todo o saber

que se empilha nos cantos desse mundo,

a erguerem-se como épicos gigantes,

sôfregos de levar o quanto antes

a rasa carne e o espírito profundo.

Se soubessem, ó Deus, se eles soubessem

tudo quanto compreendo e, logo, penso;

se sentissem metade desse intenso

ardor que me domina e não conhecem,

ficaria aliviado em assistir,

atrás de um riso largo e satisfeito,

o arder do fogo que há dentro em teu peito,

que tampouco imaginam existir.

Marcel Sepúlveda
Enviado por Marcel Sepúlveda em 14/12/2015
Reeditado em 09/01/2016
Código do texto: T5479765
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.