TEMPESTADE

Quem me dera ver melhor
essa tristeza e o vazio
dos dias silenciosos
em que o vento sopra quente,
trazendo a poeira dos rios,
e enchendo de arrepios
o homem pobre e carente.

Longe de mim eu escuto
um som crescendo maduro.
Bate em cheio na parede,
e sem consistência escorrega
num murmúrio rouco e surdo
para o chão sujo e escuro,
coberto de limo e de terra.

Obedecendo a um impulso,
abro a janela sem medo.
Só uma centelha vermelha
fulgura nos céus por instantes,
indecisa, vacilante,
mas bem depressa se apaga,
e dela não resta mais nada.