Não desperte em mim a mulher que ora dorme,
tenho um coração dilacerado pela dor, solitário e disforme,
venho de árduas batalhas, de lutas íngremes e ferrenhas,
portões trancados cujo acesso já não tenho mais a senha.
Não desperte em mim sensações que julgava esquecidas,
arrepios, gemidos, sabores e cores adormecidas.
Nada tenho a lhe oferecer no céu dos amantes,
para além da muralha dos sonhos impossíveis e distantes.
Não desperte em mim a chama ardente e efêmera da paixão,
permita-me adormecer nos doces porões de minha solidão.
Não queira voar comigo pelos ares infindos do prazer e do amor,
como pássaros feridos sucumbiríamos nos céus sombrios da dor.