AUTOFLAGELAÇÃO II

Já é noite em todas as noites.

Na atmosfera ouço:

Há uma nota de luz sustenida

perdida no vento

Insistente...

querendo avançar

dentre todos os bemóis em prontidão dos eventos.

Na clave de sol a sempre lua se insinua, nua

de todas suas fases assimétricas,

desnuda na partitura

de quaisquer pecados mortais.

Uma claridade (fora de hora e de foco!)

-farol teimoso no imaginário absoluto-

inunda o mesmo céu alheio e escuro

de tudo...

ao mesmo tempo que

bulhas aceleram em galope de fuga

das claridades súbitas

na rota desvairada de si mesmas.

E porque em algum lugar é noite clara

Um sol descansa impune

À revelia do seu dever,

só por se saber capaz de iluminar

e desligar ao bel prazer

Todos os horizontes mais escuros.

Não sabe que...

Nunca foi permitido brilhar

Além do que a noite tem por legítima contenda.

Cedo à ordem do horizonte impreciso

E mais uma vez

desligo todas as luzes indevidas

a religar a perene noite em decurso.

É melhor não se enxergar de fora para dentro.

Entendo que,

Até para se ser-de repente!- luz

É preciso pedir ordem

Aos flagelos do tempo.

Os que mandam todas as faturas noturnas...

A despeito do sol ardente

que nos ilumina a nos queimar por dentro,

Qual destino esquecido ao relento.

Porque aos poetas primeiramente é preciso sentir

só para, depois, se poder iludir com todos os sentidos.