Poesia-diário da angústia
Senti a poesia vindo,
balancei a caneta nos dedos,
joguei-a as estrelas.
Mas ela voltou fria e nada me disse.
Acendi o cigarro,
suas cinzas voaram.
Quando percebi já tinha dormido,
O frio da manhã me acordou com seu fino sussurro.
Mas a neblina, que antes me abraçava pela manhã
agora me parece irreal e distante
“O mundo é para quem nasceu para o conquistar”
Minha mente viaja nessas palavras de Campos.
Talvez eu seja também da Mansarda,
Talvez sejamos todos.
Talvez sejamos nossos próprios titãs,
segurando um imenso peso sobre os ombros fracos,
um fado.
Um céu negro.
Um manto escuro.
Que no momento certo se torna mais pesado do que nossos joelhos podem aguentar.
Talvez essa poesia seja apenas sobre minha falha
sobre as palavras que hesitam em sair.
Se é que as tenho dentro de mim.
Faço anotações ao redor do caderno,
mas a poesia é a chuva,
é o pássaro,
observe-os na hora exata
pois eles irão embora.
E a chuva de ontem nunca se repetirá,
o pássaro de hoje não voltará.
Então se permita voar,
abra suas asas,
sinta o vento,
voe em direção as nuvens e do alto poderás ver você mesmo.
quando voltar ao chão sinta a si mesmo,
deixe a chuva te atingir,
deixe os versos pingarem dos seus cabelos.
Não quero ensinar ninguém a viver.
só quero te mostrar a minha poesia.
A epifania me agita os nervos
mas não sei ao certo o que minha consciência grita.
Estou perdendo tempo de vida.
Fumo o último cigarro da noite
e o dia surge na fumaça desse amargo tabaco
que arde na garganta.
As cinzas rolam pela pele.
Tu és meu futuro.
E o peito dói ao saber que o futuro não chegou.
Sou ser sentimental.
Tu és ser instintivo.
Como coruja assustada observa com olhos sábios
e tristes,
Como raposa acuada se esconde
nas sombras,
e foge.
Enquanto a lua brilha
dourada,
minhas mãos tremem,
e enquanto tua voz canta para eu dormir
meus dedos se confundem nos cachos.
Ao acordar acendo outro cigarro,
essa é minha poesia-diário da angústia.
No momento sou aquele que espera.
Cala-te peito!
Cala-te ou vou lhe cegar com minha fumaça.
Cala-te e deixe-me afogar-te.
Já disse!
Cala-te!
Prometo te chamar no dia certo,
prometo deixar-te ver os cachos negros.
Mas agora não preciso de ti.