sem medo
eu vivo sem enredo
nas ruas que são um jardim
e aquele céu inteiro
foi Deus quem deu pra mim
as regras que me impõem
são os meus brinquedos
concordância me causa ânsia
perquiro o que me propõem
e quem propôs
desconfio da palavra confiança
(pois ser mulher é desconfiar duas vezes)
querem apertar o meu coração
aniquilar a minha mente
e sujar o meu corpo
o perigo é bonito e solto
o mal é recôndito e confuso
algozes do machismo e do Estado
querem o meu corpo para abuso
para me cadastrar na psiquiatria do desuso
às vezes busco o meu humor emprestado
esqueço desse sistema obtuso, covarde
e no céu eu vejo as andorinhas
entre o caos e a liberdade