LEGENDA

Choveu a noite toda; de mansinho e de continuo, o gerúndio já não me incomoda. E por isso amanheceu. Antes no oriente, depois na minha aldeia. Desse mundo descontínuo completo o que posso cabe na minha janela. Uma janela que nao é minha. Toda aquela água da noite, da chuva e do humor, toda umidade caminha longe, me levam. Eu resto, fito, eu calculo...

As gotas prateatas nas folhas da Murta, as outras unidas que escorrem goteiras, o fino manto umido que escurece e faz brilhar o asfalto.

Onde eu estava mesmo?

Ahh sim!

Eu pensava na existência breve das coisas, na longevidade da vida renovada nos organismos, na brevidade do orvalho, dos vapores; eu não estava, apenas sentia.

Daí me deu vontade de corresponder um resumo, traduzir o silencio de dentro das gotas...

Por um instante pensei ser possível e me atrevi a escrever, mas deveria apenas ter lido os sinais, a legenda.

Antonio B.

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 17/01/2016
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