CARTA DE UM SUICIDA
I – A Carta de Despedida
Estou partindo
Pois não quero mais te fazer sofrer
Desculpe-me por ter te magoado
Eu te amo e sempre te amarei
Mas não consigo viver com essa culpa
Incontestavelmente prefiro a morte
Está fora a última vez que te machuquei.
Acho que sempre fui um grande covarde
Não desta vez! Peço seu perdão,
Choro pelo fim que tivemos
Todavia, vou em paz, não quero sofrer
Neste mundo de eternas incertezas.
Beberei veneno, cortarei os pulsos
Pularei do viaduto, me enforcarei:
Desejo a maior dor possível
Em retribuição ao mal pago que lhe dei.
De toda forma, sempre fui um tanto mais triste
Talvez, essa seja a sina de ser poeta
E a morte um fruto inevitável de ser provado.
Nunca andei em pé de fato, curvado
Rastejei pela existência na lama do eu.
Peço a Deus o mínimo de compaixão
E perdão por não poder fazer parte do seu maravilhosíssimo Céu
Afinal, sempre soube que meu destino era o inferno
No qual estive boa parte em vida.
Sou filho da desolação e incompreensão
Tenho imensos buracos na alma.
Para Sempre nunca me fez sentindo algum
Infinito foi somente meu desespero humano.
Cheguei, aonde, desde o início, achei que terminaria
Suicida, pecador
Adeus minha amada.
Seque todo o teu pranto profundo
Pois não serei mais o motivo dele.
Se possível for deixo um último pedido:
Ore por mim junto ao Cristo Salvador
Quando eu for parte indivisível da sepultura.
II – O Ato Funesto
Lágrimas
Corda no pescoço
Cadeira empurrada
Árvore cadafalso
O quebrado
Pêndulo humano
Pele rasgada
Traqueia esmagada
Pulmões explodem
Em agonia
A morte chega
Outro suicídio
Sem culpado.
O corpo balança
Ao sabor do vento
O vivo já não existe
E o morto sorri em paz
Liberto das obrigações passadas
Não há pesar, por enquanto.
III – Encontro
Sem julgamento
Pelo menos na morte há pertencimento
Enquanto, os vivos não pertencem a nada
Todo morto pertence a alguém.