NUM VOO DA LUZ

Pelos costumeiros dias

Cai nevasca arredia!

Vinda neve aos céus urbanos

Dos arranha- céus dos planos.

E de repente, a magia

Morno sol atemporal

Duma aurora boreal.

Arco-íris em turbilhão

No inesperado carrilhão!

Soa o aviso, a contratempo

Soa a precisão do tempo.

São só fictícios braços

Em ardência de abraços.

Num encontro improvisado

Grita um eco atordoado.

Luz que brilha a revelia

Pelo tempo em demasia.

Sons incautos , tão teimosos !

Qual poema em destroços

Que tritura nossos ossos.

Sede de vida de gente

Já em morte consciente.

E a poesia , qual magia

Sempre vindo a ser de novo

Num rascunho perigoso.

Toca o tango, soa o fado

Lua brilha ao todo enfado

Pelo ar tão saturado.

Já verseja-se o inexplicável

Pelo tempo traiçoeiro:

Rima é qual beijo certeiro.

São destinos entralaçados

Corpos quentes e suados

Qual poemas amalgamados.

Verso chega sem aviso

Pelo sonho inconcessível.

Tardes a sobrevoar:

Toda a vida está no ar.

Voo...voo.... de poesia

Rima farta, engasgada

Pela noite enfartada.

Passaredo sobe ao céu

Qual destino em cordel:

Versejar a noite em véu.

Tudo solto ao relento

Vindo na asa do vento.

Obscuro imensurável

Rito incólume, o das horas!

Num flash do inexplicável

Ao tudo que vai embora.

Voos cruzam enlaçados

Edificações das noites

Vindos versos assustados

Dos horizontes dos açoites.

Vêm sem bússola e sem carta

Focam só a noite clara

Em meio à força da Terra

Poesia os regenera.

Com cinética poderosa

Tudo gira, a toda prova.

Só acima existe lua...

Deste chão de terra escura.

Aceleram o peito ao léu,

Para não cair do céu.

Velocidade da luz:

Voo alto...os seduz,

Já é tarde pra pousar

Seu destino é decolar.