Heracles


Ninguém sabe
Degustar
um segredo.

Ele tem a cara
De um Câncer.

Ele tem o cheiro
De um medo.

Eu verto silêncios
E aromas de baunilha
Nesses dias entristecidos.

Eu perambulo
Pelos endereços
Inábeis
Dos tempos felizes.

Eu sofro
De amores voláteis
Desandando
A maionese dos magos.



Flor de um asfalto retrátil
Devorador de pernas
dóceis
E sonhos contidos.

Esvoaço a vida
Se esvoaçada
Deixa-se.

Falo a verve
Descontrolada
Dos abismos.

Amo a febre
Dos meus sentidos:
Voz embargada.

Desavisado sorrio
Os dias me dilaceram
Na sorte que anunciam.

Dobro a esquina
Cruzo o rio
Sangro desaparecido.

As mãos prenunciadas
São a febre
Das horas enraivecidas.


O olho inerte
É o remorso
Do tempo vencido.

A outra margem
O rosto da correnteza
cortada.


Palidez é a cor
mais selvagem
a mim permitida.

Morrer centenas
De vezes e não
Morrer sequer um dia:

Trançado de vozes
Calando
As pedras velozes.

Do livro Em um mapa sem cachorros

Julio Urrutiaga Almada
Enviado por Julio Urrutiaga Almada em 24/01/2016
Reeditado em 14/05/2022
Código do texto: T5521801
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