E la nave va...

Retido no cais do último porto da vida,
Diante de mim desfilam meras lembranças
Do que fui, do que pretendi ser, infenso...
Como as hélices de um ventilador imenso,
Ponteiros do relógio giram como se crianças
Em um carrossel, indiferentes, entretidas...

Remonto a um passado que não sei distante,
Que nem mesmo sei se é futuro ou presente,
Que minha loucura já nem mais tem a certeza
De que tenha ocorrido um dia tamanha beleza,
Perdida, pisada, massacrada pela mó inclemente
Do tanto tempo convertido em fugaz instante.

Mãos de amores tantos agora saudosas acenam,
Embarcados em suas próprias naus dos insensatos,
Neste adeus que se prolonga e se sabe derradeiro,
Não mais tem volta esta busca por teu paradeiro,
Sabe-se que estás perdida em meio a tantos fatos
Assumidos como se verdadeiros e que ora encenam.

Ao longe, mesclam-se acordes de sinfonias de Bach
Com as batidas sincopadas deste funk angustiante,
Na praia, distante, flutuam as guirlandas de flores
Com que, então, se despediram estes tantos amores,
Que um dia foram namorados, amados, amantes
E partiram, como partes agora. E La nave va...
LHMignone
Enviado por LHMignone em 26/01/2016
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