VERÃO-CHORÃO

VERÃO-CHORÃO

Para a Ninfa paulistana:

ANA VALÉRIA SESSA

... farfalhar de folhas secas no chão,

céu azulão.

Ipê-rosa florão,

chorão, flores rosas ao chão...

Verão, outono, é inverno,

ipê-rosa primaveril,

em contraste o frio céu de anil;

saltam, brincam, brindam, em seus galhos,

beija-flores, bem-te-vis, pintassilgos:

é festa, é passaredo!

E eu, cá estou, em busca do enredo.

Passa um, passam dois, passam três...

E eu a me enredar num jogo de xadrez.

Insensatez...

Apolo afirma pela boca de Baquílides:

“_ Tu és apenas um mortal; por isto teu espírito

deve nutrir dois pensamentos ao mesmo tempo.”

A ambigüidade num só ato de linguagem.

Ó irredutível pluralidade! Ó pensamentos simultâneos!

Inverno primaveril,

verão-chorão:

a distorção na polarização.

Passa um, passam dois, passam três...

pintassilgos, bem-te-vis, beija-flores:

flores e dores...

E eu, em meio ao intenso vento invernal,

cá estou, em busca da palavra plural.

... o ipê é uma rosa, a rosa é ipê.

Prof. Dr. Sílvio Medeiros

Campinas, é inverno de 2007.