SERENATA

Na madrugada cinzenta e fria,

uma voz maviosa se levanta.

São afagos para a moça esguia,

que dormita e se encanta.

Os sons da rua são convites

dolentes, como do lobo o uivar.

Os acordes da viola são tristes,

como o som das ondas do mar.

A voz se agiganta,

quase um queixume,

evocando a alma de crisol,

tranças da cor do negrume

maculado pelo próximo arrebol.

Foi nesse encantamento

supremo da adolescência

que Tereza pôs-se a sonhar

com o amor das aves

planando no firmamento

e o segredo das rãs a coaxar.

A voz se aproxima.

Melodia envolvente

possuindo corpo e alma

na subida apoteótica

acima do vôo dos colibris.

Acordou em deslumbramento,

seu corpo jazia ao relento,

sua alma cortejava o céu.

O seresteiro atônito para

ante o corpo inerte que

da janela à pouco caíra.

O choro dispara num murmúrio,

no dedilhar sofrido a viola soluça

notas agudas de sincero pranto.

Apologia da dor respondida

nos quatro cantos da amplidão,

em mavioso contracanto,

hino de amor:

“- Oh! tu que a mim vieste

movida pelo amor sensual

da luxúria das alcovas,

das vestes nobres à luz

diáfana de um castiçal,

o meu canto escuta.

Meu casto sentimento brejeiro

engajado nas asas da honra,

qual águia de voo ligeiro,

passou rasante no pântano

onde o prazer efêmero do amor,

na traição de um reflexo,

submergiu no lodaçal de mau odor.”

JOSE ALBERTO LEANDRO DOS SANTOS
Enviado por JOSE ALBERTO LEANDRO DOS SANTOS em 25/02/2016
Reeditado em 18/10/2018
Código do texto: T5554704
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