Confesso que

Eu tenho medo. Sim, eu tenho muito medo.

De tudo, de todos, de fazer, de viver.

Temo com todos os músculos o mundo,

De todas as maneiras que o podemos ver.

O meu nome é Mais Um, e eu sou mais um,

E se me tocar vou temer que quebre meus ossos.

O arcabouço gelado não tem nenhum

Espírito esperançoso ou resistentes laços.

Eu me sinto sozinho, frágil como uma criança

Que precisa de colo, amor e carinho;

Uma criança já sem nenhuma esperança

Seguindo seu caminho, gelado, sozinho.

Busco o abraço mágico capaz de fazer

Minha boca sorrir e meu corpo esquentar,

Todo o gelo no peito irá enfim derreter,

Eu serei capaz enfim de amar.

É indigno, podre, triste, solitário,

Escrever um poema de aspecto melancólico,

Mas sinto frio e falta de amor próprio

Em um mundo errado, cruel, inglório.

Eu peco sim como qualquer homem comum,

O meu nome, afinal, é apenas Mais Um,

Só que quero o calor de um abraço apertado

E nunca soltar essa pessoa que me fizer amado.

A vida não é tão difícil quando se ama,

Mas ela é sofrida quando choro na cama,

Sinto falta de algo, sou um ser humano,

Mais Um desgraçado de futuro pequeno.

Levanto as mãos ao céu, a Deus,

Sinto a Luz, Seu poder em mim,

Não sei se devaneio ou se testemunho, Deus meu,

Se bem que um não é tão diferente do outro assim.

"Seja mais forte", dizem para mim,

"Tudo vai passar", afirmam assim,

Mas os dias se passam e me desespero

Porque não vejo o amor, esconde-se num mistério.

Se eu for muito forte terei uma carreira promissora,

Viverei sozinho como um homem altruísta,

Posso ser um escritor num sonho cheio de glória,

Eternizar o meu nome no título de artista...

Mas vale a pena se não terei achado o amor?

De que vale viver se não posso amar?

Cansado dum caminho tão cheio de dor

Eu preciso dum abraço para descansar.

Eu ainda sou um ser humano.

Eu ainda sou um simples ser humano.

Eu ainda sou um comum ser humano.

Eu ainda sou apenas mais um ser humano.

Tenho dezoito, não tive as coisas na hora certa,

Cercado por pais que me fizeram de vidro,

Agora minhas pernas já não se mantêm retas

E o meu jeito é dolorosamente insano e lírico.

Ando por entre grupos por toda a vida

E passo direto, como se nem estivessem ali,

É assim que foi desde sempre minha vida,

Um fantasma em outro plano, sem plano pra mim.

As correntes se batem sonorificando minha dor,

As vidraças e lagos refletem meu sofrimento,

No peito bate aquilo que sonoficaria o amor,

Nos olhos profundos a visão do horrendo.

Pai, Mãe, cada Toddynho me fez sorrir,

Cada batata frita, cada brinquedo novo,

Pai, Mãe, com os meus amigos jamais pude sair,

E vejam agora, acho que sou um monstro.

23/2/2016

24/2/2016

25/2/2016