OBSERVANDO

Misturo-me ao povo que passa:
olho a cara, os sapatos...
Alguns têm o rosto jovem,
porém os sapatos bem gastos,
indício de muitas andanças.
Vão em busca de esperanças,
ou procuram algum trabalho.
Outros têm um ar cansado,
e sapatos quase novos.
Eu em nada os reprovo,
sua vida já está feita,
e em boa cama se deitam.
Assim fico, horas inteiras
passeando pelas ruas
calada, pensando, cismando...
Por que nós corremos tanto
procurando, procurando?
O que é nosso está guardado
e virá, mais cedo ou tarde,
independente de tudo:
da pressa,
              do tempo,
                            da idade.

             .  .  .

 
...E pensar que a vida é bela,
 simples assim como vês,
 que Deus lá de cima zela...
 são demais nossos porquês!

 
Esse teu olhar furtivo 
a partir duma persiana
 é meu trunfo, maior motivo
 pra saber que o amor não engana...