Fábula das luzes

A lâmpada fluorescente diz à vela:

— Teu tempo é um pretérito imperfeito!

Eu tenho cem vezes o teu brilho

e posso viver por dez mil horas

enquanto te consomes num só dia...

És passado, ó vela! E inutilmente

enfeitas esta mesa e o candelabro!

Daqui, alta que estou, tenho o poder

de revelar a luz aos comensais...

A vela humildemente não responde

e permanece em paz consigo mesma...

Os seres sorridentes se aproximam

e põem-se felizes de mãos dadas.

Um fósforo é aceso e posto à vela

que exulta e ganha a luz bruxuleante

e logo a grande lâmpada é apagada...

A vela permanece testemunha

das juras de amor entre os humanos.

A noite avança e os seres deixam a sala.

A vela quase ao fim, porém acesa,

ao fósforo queimado no cinzeiro

resolve dirigir enfim a fala:

— Teu tempo é um pretérito imperfeito...

Poeteiro
Enviado por Poeteiro em 02/10/2005
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