Fábula das luzes
A lâmpada fluorescente diz à vela:
— Teu tempo é um pretérito imperfeito!
Eu tenho cem vezes o teu brilho
e posso viver por dez mil horas
enquanto te consomes num só dia...
És passado, ó vela! E inutilmente
enfeitas esta mesa e o candelabro!
Daqui, alta que estou, tenho o poder
de revelar a luz aos comensais...
A vela humildemente não responde
e permanece em paz consigo mesma...
Os seres sorridentes se aproximam
e põem-se felizes de mãos dadas.
Um fósforo é aceso e posto à vela
que exulta e ganha a luz bruxuleante
e logo a grande lâmpada é apagada...
A vela permanece testemunha
das juras de amor entre os humanos.
A noite avança e os seres deixam a sala.
A vela quase ao fim, porém acesa,
ao fósforo queimado no cinzeiro
resolve dirigir enfim a fala:
— Teu tempo é um pretérito imperfeito...