Invisibilidades

Na avenida que ganhou o nome

do poeta Augusto de Lima,

no alto,

visível aos olhos,

centralizada sobre uma porta,

sem qualquer poesia,

uma placa preta:

Delegacia da mulher

do idoso e do deficiente.

A placa não é uma placa.

A placa é um mapa.

Uma trilha da história.

A placa não está no alto.

A placa é baixa.

É a planta baixa

de uma arquitetura social.

A placa não está no centro.

A placa é a própria margem.

Uma encosta.

Um tártaro.

A placa não é preta.

A placa é cianótica.

Tem cor de hematoma.

É vermelha,

por um átimo duradouro,

quando sangra a violência doméstica

e um estorvo público invisível.

A placa não é placa.

A placa é implacável.

Talvez...

É preciso dizer talvez...

Talvez a porta seja uma verdade...

Uma verdade por vir.