Anel

Tinha o anel dos tempos guardado

No dedo do anjo da cabeceira

Perene, fora da eternidade,

Com o complexo de Adão e Eva

E o pecado encarnado em sua pedra

Esperando o momento para transcender.

Numa procura vã

Que nenhum espelho desvenda

Tentou achar-se no rosto do outro,

Agarrava-se ao alheio

Como um pescador de sol,

Era o tempo precioso

Do amor.

O anel refletia uma bailarina

Suas saias e sapatilhas

No balé da solidão do espírito

Onde a alma não se divide

E os tempos não se partem.

A cada passo de dança

A Terra girava mais um dia

A cada música completa

Girava mais um ano

E o relógio rodava

Sem prender-se a qualquer vida.

Olhava o anel e lia as histórias dos tempos

Sabia que o seu não tardava

Pediu ao anjo que lhe desse o anel

Para guiar o seu peito e levá-lo ao amante

O anjo respondeu-lhe em negativa.

O que fazia ou faz do amor

Nem os tempos ditam

Faz-se tudo o que vive destino

Desdobrando em cada estação

Quando um amor morre sempre é inverno

Quando não se consegue esquecê-lo

Já faz parte do seu ser

Carrega-o

Mas não se força um beijo de amor

Nem um beijo da vida.