convite matinal


esperava-te, vem, entre . breve amanhecerá, espreite a luz à fenda do azul. repare a cortina em névoa a se diluir: iluminura. vê a folha, tão só: fragmento do jardim. 

observe o mar e o céu refletidos, em luz, sobre flores: mergulhe teu olhar: perfume-se no azul-dual. 

não tenha receio, desce pé-ante-pé; degrau a degrau. cuidado caminhe junto ao debrum coral, sem pressa, espero-te. verá outros segredos.

vê, há vida a nascer: miúda e tímida, a se revelar. repare, sobre pétalas, o sentimento noturno : lágrimas da noite ao amanhecer: orvalha.

vê, um pouco mais, em calma. as linguagens líquidas a descreverem o frescor vegetal, antes escondido: prova, no olhar, o sentimento... o matinal.

agora, dance comigo: silvestre e singelo num ritmo, lento, grácil e primaveril. respire, profundo, o perfume e sinta, quão delicado (de) lírio ...gire entre os lilases: declare-se

senta-te, cá, repouse ao banco das flores, mime as diversas cores, suspire. não diga nada, sei ler as palavras que te florescem n’olhar: verso-te sem fala.

[é hora]

contempla-me, em tom suave, constantemente, até o fim do dia, aquece-me em adorno e permaneça, sempre, junto a mim. poesio-te.

estendo-me sob suas asas. marinho sob si, fluo no’azul e espraio feito manto de espuma. sou mar sob teu olhar de ave marinha ...me embala; amanhece e voa.