Meu(s) heterônimo(s)

Inventei um heterônimo

Pra ser medíocre sem medo

Fazendo versos anônimos

Confessando meus segredos

Quis que ele fosse depravado

Pra chocar puritanos de plantão

Fazer versos debochados

E rimar amor com paixão

Meu heterônimo é um ser estranho

Que habita meus melhores pesadelos

Um calhorda sem tamanho

Que faz versos por dinheiro

Inventei um heterônimo santo

Que se embriaga de mulheres da vida

Faz amor e poesia no canto

Em bordeis pelas avenidas

Meu heterônimo será meu avesso

Minha parte romântica agonizando

Meu ego altruísta e réu confesso

Minha sede de fazer versos abrandando

Meu heterônimo, puro deboche

Fazendo versos em plágios rebuscados

Dos sonetos de Florbela ou poetrix de Leminski

Enganando musas e críticos desavisados

Fiz um heterônimo ainda anônimo

Por covardia de um ser lacônico

Com versos que viraram sinônimo

Do falso poeta e seu falso heterônimo!

José Benício
Enviado por José Benício em 28/03/2016
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