Escolha - PaoT

Não sei se fazem semanas ou meses que estou aqui

Já perdi a noção de tempo

Antes minha mente diferenciava dia e noite

Agora não faço ideia se acabei de acordar ou devo dormir

Tornozelos e pulsos já estão em carne viva

Mesmo com minha cicatrização acelerada

Ela não dá mais conta de tantos pontos para agir

Já que as torturas são constantes

A risada áspera e rouca do meu algoz me faz tremer

Inicialmente sempre dava respostas atravessadas

Já que suporto muito bem a dor

E ele sempre me batia de volta

Me exigia informações que eu não sabia

E mesmo se soubesse, não lhe entregaria assim tão facil

Assim as sessões intermináveis e intermitentes vinham

Chicotadas, sessões de espancamento, afogamento, choques

Nesses momentos que durmo/acordo

Os sonhos já não fazem mais sentido

Tem dias que eles se misturam com a realidade

Que não lembro do mundo de fora

Não me recordo de outras cores

A não ser o amarelado escuro das paredes

o cinza do capuz

o marrom do chicote

o indecifrável da única coisa que me dão de alimento

o rubro de meu líquido vital

Mas depois de incontáveis tempos

Quando aquele ser despresível entrou em meu cativeiro com um pedaço de aço incandescente, para me marcar como se fosse animal para o abate

Aparece um ser gigante, negro como o ébano

Pele que lembrava a de um morcego

Ele tinha as asas do mesmo, mas corpo humano

Como se essa pele fosse uma armadura

Um capacete que revelava um sorriso delicado e olhos azuis

Tão azuis que me fizeram lembrar da cor do oceano

Que num movimento rápido de mãos partira meu algoz em dois

Caindo inerte nas próprias entranhas

A porta pesada de madeira escancarada iluminava esse ser funesto

Ele apontava para a porta e a liberdade

Mas depois de alguns segundos, como se fosse oferecer uma alternativa

Com esse sorisso ele me esticava sua mão

Para acompanha-lo ao lado mais escuro de minha cela

Algo tão denso que parecia que conseguiria atravessar

E pararia em algum lugar, pelo menos longe daqui

Pondero.....vou para liberdade do jeito que estou

Ou sigo este ser desgraçado para sua origem?

Edu Campagnolo
Enviado por Edu Campagnolo em 29/03/2016
Reeditado em 02/12/2016
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