acentuações mais intimas

sente como a beleza acenta

nas acentuações mais intimas

de rimas que intersectas soltas

num efusivo explodir de erupção

onde o poema começa largas

um balão da mão duma criança

sem que ela chore pois repara

súbito incêndio de luz: o Sol

como essa criança delicio-me

na abundância de alma na mala

onde guardo a bagagem de lama

repetindo prazer que aqui chama

cada incandescência inflamada

nestas conversões duma fé acesa

onde também converto quem siga

o horizonte pelas palavras presente

observo na concha dos poemas

onde colecciono madrepérola

do magnifico movimento celeste

duma colorida aurora boreal

quanto ao real versus realidade

verso versos neste latim latido

do fundo da memória-mundo

onde a língua fala a Língua

muda enquanto escrevo mudo

para que o silêncio dê moldura

ao que farás vibrar na tua voz

se a seguir tentares interpretar

o calor da palavra inebriada

pela liberdade de poder viver

como a fala fala do que é falar

mesmo enquanto mudo mudo

até nos juntarmos no destino

onde ambos começámos a ser

duas hipóteses distintas agora

unidos numa enorme síntese

quem sente o poema lê outro

que ele mesmo é ao descobrir

os sonhos dentro das palavras

prontos a acordar na leitura

não temos outro leito para ir

da nascente em direcção à foz

onde o poema acaba recuperas

um balão na mão duma criança

Francisco Coimbra
Enviado por Francisco Coimbra em 12/07/2007
Código do texto: T561739