Cantos das Américas

I

Oh, América! Minha América!

De uma desigualdade numérica

De sonhos e diferenças infindas

Oh, América! Minha América!

Das hostes homéricas

Com seus bastardos indígenas.

Da cabeça ianque tão bélica

Cintura caribenha, afrodisíaca, lotérica

Cordilheira, eldorado, andino, platino

Criollo, mestiço, pobre, latino

Das peles multicores

Dos paladares e sabores

Puritano protestante

Esotérica, católica de dores

Que se veste de militante

Que dança ao toque dos tambores.

Vestido pelas florestas densas

De um verde dolarizado

As razões, sincretismo e crenças

Do americano globalizado.

II

América! Minha América!

Pueblo, personnes, people, povo

Todos americanos

Big steak, arriba, liberdade, aur revoir

Uma América para todos americanos

E todas as nossas origens, peles e sotaques

Astecas, Maias, Incas, Apaches

Tupi, Guarani, Sioux e seus tacapes.

América de estreladas noites

Correntes em filas, açoites

Humanos e desumanos nos parques

Navios navegam no delírio

Do Atlântico tão americano

Africano, meu ritmo afro americano.

Cadê os ameríndios?

Cadê os nativos americanos?

Na América dos americanos

Asiáticos, europeus e africanos

Embarcam e desembarcam

Procurando algo mais

Procurando paz

E de marcas capitalistas nos vestimos

E sobre números nos marcamos.

III

Batman, Superman, Capitão América

Zorro, Chapolin, Lampião

Toussaint, George Washington, Fidel Castro

Martin, Bolívar, Che Guevara e Lamarca.

Quem vai nos libertar das correntes?

Quem vai nos guiar para frente?

A “terra de bravos”, ou da “ordem e progresso”

Nossa América! Nossa América!

Com seus ditadores democratas

Com sua democracia escravocrata

Com seus bandidos de sangue nobre

Cada idioma com seus pobres.

Mas todos somos americanos

Sonhadores, livres e sem memórias.

Pedintes ao FMI por pedigree e esmolas

Nossos gráficos alcançaram

O que nossas armas e omissão

Trabalharam para chegar.

Somos todos americanos

Com toda nossa indigência e magreza

Com toda nossa versatilidade e esperteza

Com toda nossa solidariedade e preconceitos

Com toda nossa inferioridade e despeito.

Henrique Rodrigues Soares – Canibais Urbanos