Ad naseum...
Ad naseum...
(ou como se diz nesta rua)
até à náusea terá de alastrar
e muito gentilmente
um ou outro eufemismo.
Oh p'ra mim a misturar
slogans com clichés,
a cismar com a voz do povo,
até só para ver no que dá,
só por mais ficar
a pasmar, embasbacado.
Mas se a minha procissão
ainda vai só no adro
talvez não fosse descabido
conferir no fundo da algibeira,
o meu "stock" de pachorra,
os recursos de complacência
e seja o que for
mas do mais pragmático
não se dê o caso
de eu ainda só ter
meio caminho andado.
Por todos os efeitos
ou pelo que tantas vezes
me faz circular infinitamente
em torno da rotunda
sem entender a sinalética...
enfim, para efeitos tais
tenho a declarar
que a gente esperta,
não sobreviverá muito mais
ao extermínio dos parvos
e eu vou-me resignando
à fazer votos de não sucumbir
sem que se clarifique
o meu estatuto.
Não, não estou chateado!
Também não me dá
para estar exultante.
Da chinfrineira televisiva
desprendeu-se e chegou a mim
a lamúria de uma mulher:
- Nunca ninguém passou fome?
Nunca quiseram tomar um café
e não terem dinheiro?
Num refego quase inocente
de alguma humanidade
aludia-se a um espaço
tão brutalmente imenso
tão maior que as palavras
e tão sem resposta.
Refraseava-se num desabafo
a mensagem de um badalo
no mais ancestral
de todos os campanários.
Diante das câmaras mediáticas
escorriam lágrimas de Sónia,
decorria um vazio, um temor
uma mágua talvez patética
e eu voltava a sentir
que um sino tocava a rebate.
Oh gente!, como alastra
essa dor social e urbana
como fere e bloqueia, quem sabe...
a melhor das intenções.
Já agora, qual é?
Decididamente, não sei!
Vamos a votos?
Luis Melo