ALIMENTO

ALIMENTO

Vou sem ansiedade,

tristeza na alma

e alvo de intrigas e lamentos.

Sinto-me um cordeiro cativo

a procura dos devaneios do objetivo.

Minha vontade é um poço de sangue,

e meu coração quase não fala.

Tenho um caminho e uma mala,

quero partir para o pensamento eficaz,

que é achar o cume da paz.

Minha maneira não é este viver,

tenho um sentimento de só desalento;

um dia a mente cansa de sofrer

e nossa revolta canta pelo alimento.

Um alimento que frutifique

esta intensa dor de injustiça,

um alimento que diminua

este constante peso sobre minhas costas.

E só assim poderei morar

naquela bela lua,

e lá plantarei a vida com ternura,

farei ruas onde morem andorinhas,

pois não suporto esta falta de consideração,

esta instantânea alegria em vão.

Preciso deste alimento,

pois só assim partirei para minha lua,

e lá não existirá ambição,

esse amargo, esse sal, essa tristeza.

Venha alimento!

Desça do céu! Suba das profundezas

destas sofridas terras!

Quanto preciso do trigo consolador!

Quando sentimos nosso peito sem amor,

nos tornamos frios sobre a pálpebra gelada,

assim perde-se o ímpeto, o desejo e a escada,

e nos enterramos dentro de um amargo rancor.

Por isto preciso deste alimento,

mesmo que morra em tanto querer,

preciso do trigo consolador e puro,

é a última esperança viva

de um doente sem futuro.

FERNANDO MEDEIROS

Campinas, é inverno de 2007.