O SER EXTRANEUS

[o ser extraneus, acompanhado d'outro ser extraneus, chegou][com cabelos cor de vinho ou de sangue, não me lembro bem][a risada muito alta, gestos expansivos][parecia-me muito alto ou meu ponto de vista que era baixo, preferi esquecer][ele traz muitos presentes, comprados pelo outro ser extraneus para pessoas desconhecidas que os rejeitaram][o ser extraneus senta-se à nossa mesa e faz imposições, insulta nosso pai -- nosso e dele --, insulta nossa mãe -- nossa e dele][junto com o ser extraneus chegam as ordas de vizinhos fofoqueiros, o cheiro de tinta verniz e óleo de peroba, a faxina geral, as gorjetas][os seres extranei se vão -- nunca demoram o suficiente --, não sem antes ladrarem com nossos pais -- nossos e deles -- e cuspirem no chão][tempos depois descubro que os seres extranei moram muito longe, precisam se ausentar para prover mais presentes, gorjetas mais generosas, manter a indústria e comércio de tinta e óleo de peroba funcionando][ficamos nós -- eu, meus irmão e nossos pais -- no hiato de nossas vidas, aguardando a próxima descida dos seres extranei][o cheiro agora é de naftalina e os insultos voltam a pertencer a nossas próprias bocas][e muito tempo depois o ser extraneus não nos visita com tanta frequencia; nosos pais -- nossos e dele -- não mais ouvem seus insultos][eu os ouço, ou os rememoro, e penso na solidão e na distância que nos separa; e penso que o ser extraneus apenas nos ama, numa sua forma estranha de amar: mostrando os dentes, em tom altivo...][penso que tenho sorte por ele não querer me devorar e por seu insultos terem encontrado seu objeto em pessoas estranhas -- estranhas a mim e ao ser extraneus; e penso que temos sorte por nos amarmos de uma forma assim estranha[]

Luiz Eduardo Ferreira
Enviado por Luiz Eduardo Ferreira em 15/05/2016
Reeditado em 25/05/2016
Código do texto: T5636593
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