GLACIAL
Rotina
arbitrária
desperta
a realidade
cristalizada
no gelo
Rodízio
colorido
dos semáforos
nas ruas
entorpecidas
surpreende
o lento
espreguiçar
da manhã
No freezer
da lixeira
sobrevivo
recolhe
sobras
de uma
torta
vencida
cerejas
revestem
a iguaria
No céu
invisível
da boca
de quem
não tem
futuro
o gosto
ligeiro
da eternidade
Em assentos
de utilitários
velozes
atrás
de janelas
embaçadas
humanoides
imperturbáveis
sombras
congênitas
desaparecem
nos caminhos
vaporosos
Ártico
do alvorecer
vitimiza
o indigente
revive
a indigência
humana
Personagens
obedientes
aos protocolos
antárticos
na faina
diária
reprimem
a naturalidade
Oficinas
viaturas
casas
escritórios
acolhem
climatizados
a convivência
arrefecida
Obreiros
demitidos
esquecidos
no oceano
glacial
perdem
o rumo
da esperança
Aos olhos
do povaréu
adentrando
ossos
a imensa
geleira
do destino
Abrigados
da intempérie
num robusto
quebra-gelo
dignitários
expedem
decretos
incompassivos
como o gris
impiedoso
da manhã