Ser que rasteja

Como um grão de areia no deserto

Foi o que disse pensando surtir efeito

Mas a dor que vivi e ficou em meu peito

Blindou quaisquer malefícios de seu intento

Grasne a vontade, ave sem pena

Quando tenta voar, triste é a cena

O amor te falta, próprio e alheio

Sua vida não tem cor, nem tampouco recheio

Digna de dó, é a nota que alcança

Mia como um gato...Querendo imitar onça

Seca por dentro, inflada por fora

Se te furo com alfinete, sei que o ar se vai embora

Poderia cantar tais versos

E se quisesse, até sussurá-los

Mas seu ouvido vive entupido

E na garganta não quero calos

Pobre ser que rasteja

Dragão que guarda tesouros

Na solidão de seu covil

Vai perecer em meio ao ouro

Amargo animal

Do seu veneno sou imune ao mal

É fraco, ignóbil

Cospe, baforeja

Réptil imundo

Desdenho de sua inveja