DE VOLTA À PORTA

fui pouco

nas coisas que fiz,

se entreguei-me pequeno ao amor foi

[por certo]

certo de que nenhuma mulher voltaria para bater à porta

nunca houvera sentido dores no calcanhar

nem dores de ausência absoluta,

daquelas, de cotovelo.

fiz pouco,

muito pouco para erguer o quase nada construído

– imaginariamente construído –

em função da certeza

[absoluta]

de que mulher alguma voltaria à minha porta para nela bater

Eliana não se cansa de insistir em querer envelhecer,

Isaura não se cansa de se deixar engordar,

Lili, de casar sem querer casar...

já, esta sem nome,

[há tão pouco saída desta porta]

deu-me a noção da dimensão do meu exato;

apesar de pouco nada e pouco pouco,

aprendeu o caminho da porta

e, se descri – um dia –

das mulheres que não sabiam voltar para bater à porta,

foi porque eu nada entendia de mulheres.