à minha moda
eu que além andar para cima e para baixo de trem
por subúrbios cinzentos
tenho tempo ainda para Nouvelle Vague e aulas de francês
eu que nunca fiz mestrado e nunca tive casa minha
mas consigo desviar de todos buracos e pivetes armados de faca e fúria
eu que não sei o cheiro de lençóis caros
mas conheço o bar que vende cerveja a preços camaradas
e ótimos petiscos
eu que nunca fiz grandes viagens e ainda não venci na vida
(seja lá o que isso signifique)
mas sei do sentimento de dobrar a esquina em dias de vendaval
eu que não tenho fãs nem sou muito esforçada
mas sei que aquele sax-tenor estava chorando na música
em meu lugar
eu que não tenho carro nem sapatos novos
mas vivo com a bolsa cheia de poemas e fotografias
que vou colhendo pelas alamedas da vida
eu que nunca fui unanimidade
nem personagem central em rodas de bate-papo
menos ainda, sou uma incógnita brutal na cabeça de muita gente esperta
melhor assim, ser incompreensível, um ser incompreensível
eu que não me atrevo a declarar que você foi o melhor
pois não detenho o poder de travar o pino do relógio para que ele não
deixe vazar mais horas
eu que vou dançando rouco pelos salões vazios e sujos
quando todos já se foram inebriados
eu que conto centavos para te dar um último telefonema
desesperado
e depois volto para casa leve como
uma criança que acabara de nascer
só por ter ouvido o som indiferente da sua voz